Estava tudo tão certinho, em seu devido lugar, tudo estava calmo, era como uma noite a beira mar, apenas a brisa falava baixinho ao meu ouvido Segredos dos quais cansei de escutar, palavras que agora entravam e sem efeito algum saiam, era como se passassem despercebidas. Nada mais era como foi um dia, muita coisa mudou em casa, nada me espantava, minha mãe pouco tinha do que reclamar.
Eu estava organizado mais uma vez, minhas roupas dobradas e guardadas meus livros na estante e meus e-mails lidos, meus cd’s estavam em ordem alfabética e a roupa de cama trocada, limpa e bem forrada. Sapatos organizados por cores, e em caixas antigas, fotografias mais antigas ainda.
Após certo tempo vivendo dessa forma, as coisas começam a cair na rotina, acordava antes do despertador, café da manhã, trabalho, casa, almoço, trabalho, casa, janta, banho e cama. Era como se nada tivesse um real sentido e fizesse aquilo tudo por pura questão de robotização.
Um dia então, mais um cheio das minhas rotinas, a porta de frente se abre com muita violência e nela encontra-se você, parado, olhares vidrados alguns segundos e um abraço. Suficiente pra mudar tudo. Completamente. Minha vida não era mais apenas minha. Minhas mãos encontraram as tuas, meu corpo sentia seu calor, seu pulsar meus lábios provaram os seus. E exatamente assim, meu amor partiu, Em uma velocidade avassaladora ele se foi.
Quando percebi, já não era mais dono dos meus instintos, dos meus desejos, pensamentos ou sentimentos quaisquer. Não sabia o que fazer, e quando sabia, não queria, sentia sem parte do corpo, do meu próprio corpo ou pelo menos do que ficou marcado nele o que nem mesmo eu conseguia descrever.
Meu rosto estava feio, meus cabelos sujos, como se tivesse envelhecido 50 anos e 5 meses, como se tivesse viajado e nessa volta, não fosse o mesmo, poucos me reconheciam os que sim, sempre tinham um comentário sórdido. Tive que me refugiar, dentro de minha própria alma, e esperar. Esperar o tempo passar, o furacão acalmar, voltar a ser um vento bom.
O tempo, como sempre, passou e aos poucos tudo foi se ajeitando, tornei a colocar as coisas no seu devido lugar, já li alguns e-mail’s novos que chegaram, reli os livros antes de voltarem pra estante e apesar de ainda estarem jogados colocarei os cd’s como estavam. E enquanto o vento não volta as boas vou viver a minha vidinha de novo, acreditando que um novo furacão chegue novamente.
Certamente a parte mas difícil será trocar mais uma vez a roupa de cama pois sinto que mesmo fazendo isso naquela cama ainda faltará algo, algo que ali ficou marcado, uma silhueta sobre o colchão ali falta você, olhando pra mim, deitado, falta, tudo que vivemos, falta nosso amor.
Ulisses Freire
07 e 08de dezembro de 2008.